Thursday, February 24, 2005
Momento zero. Falta-me ar. Preciso de fumo
Momento Zero
Período aprox. de tempo desde o último SG: 70 horas
Comecei este blog porque foi o que me surgiu como natural e como forma de esquecer por um pouco o quão chocante se revela a minha própria dependência da nicotina. Para ser sincero, porque o teclado era a forma mais óbvia de manter as mãos ocupadas antes que um cigarro o fizesse.
Uma gripe sem aviso, sem grandes febres mas altamente agressiva para nariz e pulmões tornou-me perfeitamente incapaz de fumar um único cigarro desde o momento em que me levantei da cama, cedo na terça-feira, até ao momento em que escrevo, nos últimos minutos do dia de quinta feira.
Trazia um cigarro no bolso da camisa, preparado para qualquer imprevisto e, depois de complicadas negociações com a minha consciência, cheguei à conclusão que, nesta primeira fase, deixaria o método científico falar mais alto e adoptaria a técnica do desmame, fumando apenas um único e contado cigarro diário, depois do jantar.
Cheguei ao ponto de imaginar que, ao longo do tempo, poderia passar a fumar um charutinho aqui e ali, nas ocasiões em que o repasto o justificasse. Curiosos os mecanismos do nosso cérebro, que nos levam a criar imagens perfeitas em sítios onde nós temos a perfeita consciência de estar apenas um enorme buraco.
Mente qualquer fumador convicto e efectivamente viciado que descreva o acto de deixar de fumar como algo menos que pura tortura. Há no entanto — e como gostam de nos dizer muitas vezes, utilizando a frase feita, "é isso que nos distingue dos animais" — uma parte racional que me leva a esperar sempre mais uns segundos até pensar na baforada redentora.
A verdade é que, desde que comecei a fumar, fará agora cerca de dezassete anos e três meses, mais mês, menos mês, não terei estado tanto tempo como agora sem pegar num cigarro — ou, para ser fiel à realidade, sem fumar um — e que ocupei mais de cinquenta por cento da minha vida a contaminar os meus pulmões com inúmeras substâncias tóxicas.
Quando me falavam de vícios, eu papagueave sempre, de forma quase automática "fumar é o vício que eu nem TENTO deixar". A verdade é que no presente é-me extremamente desconfortável fumar, pela simples razão que os meus maltratados pulmões de homem com mais dez anos do que tenho tornam efectivamente dolorosa a baforada. Se fosse apanhado na sede do Bloco de Esquerda certamente passaria por mal educado por não passar o cigarrinho esperto pelos lábios.
Amanhã, vou tentar continuar assim.
Para ser sincero, espero continuar assim nos próximos 30 segundos.
Ou até descobrir um cigarro. Será que a blogspot me deixa ter um blog chamado "desmame"??
Período aprox. de tempo desde o último SG: 70 horas
Comecei este blog porque foi o que me surgiu como natural e como forma de esquecer por um pouco o quão chocante se revela a minha própria dependência da nicotina. Para ser sincero, porque o teclado era a forma mais óbvia de manter as mãos ocupadas antes que um cigarro o fizesse.
Uma gripe sem aviso, sem grandes febres mas altamente agressiva para nariz e pulmões tornou-me perfeitamente incapaz de fumar um único cigarro desde o momento em que me levantei da cama, cedo na terça-feira, até ao momento em que escrevo, nos últimos minutos do dia de quinta feira.
Trazia um cigarro no bolso da camisa, preparado para qualquer imprevisto e, depois de complicadas negociações com a minha consciência, cheguei à conclusão que, nesta primeira fase, deixaria o método científico falar mais alto e adoptaria a técnica do desmame, fumando apenas um único e contado cigarro diário, depois do jantar.
Cheguei ao ponto de imaginar que, ao longo do tempo, poderia passar a fumar um charutinho aqui e ali, nas ocasiões em que o repasto o justificasse. Curiosos os mecanismos do nosso cérebro, que nos levam a criar imagens perfeitas em sítios onde nós temos a perfeita consciência de estar apenas um enorme buraco.
Mente qualquer fumador convicto e efectivamente viciado que descreva o acto de deixar de fumar como algo menos que pura tortura. Há no entanto — e como gostam de nos dizer muitas vezes, utilizando a frase feita, "é isso que nos distingue dos animais" — uma parte racional que me leva a esperar sempre mais uns segundos até pensar na baforada redentora.
A verdade é que, desde que comecei a fumar, fará agora cerca de dezassete anos e três meses, mais mês, menos mês, não terei estado tanto tempo como agora sem pegar num cigarro — ou, para ser fiel à realidade, sem fumar um — e que ocupei mais de cinquenta por cento da minha vida a contaminar os meus pulmões com inúmeras substâncias tóxicas.
Quando me falavam de vícios, eu papagueave sempre, de forma quase automática "fumar é o vício que eu nem TENTO deixar". A verdade é que no presente é-me extremamente desconfortável fumar, pela simples razão que os meus maltratados pulmões de homem com mais dez anos do que tenho tornam efectivamente dolorosa a baforada. Se fosse apanhado na sede do Bloco de Esquerda certamente passaria por mal educado por não passar o cigarrinho esperto pelos lábios.
Amanhã, vou tentar continuar assim.
Para ser sincero, espero continuar assim nos próximos 30 segundos.
Ou até descobrir um cigarro. Será que a blogspot me deixa ter um blog chamado "desmame"??