Tuesday, March 22, 2005

Violência doméstica

A estatística chega, brutal e certeira, debitada por um papagaio bem vestido no bloco informativo da uma da manhã da SIC Notícias: "Vinte por cento das mulheres da Europa são maltratados, segundo dados da União Europeia".

Vinte por cento. Tanta gente a tentar deixar de fumar. É nestas alturas que me recordo que há vantagens em ser solteiro, embora talvez quem trabalhe comigo não fosse da mesma opinião.

Thursday, March 17, 2005

(com sorte) A meio do caminho

Nos últimos dias tenho sido insistentemente perseguido pela dúvida de quanto tempo se passou exactamente desde o meu último cigarro. Antes de escrever estas linhas fiz uma reconstrução de memória dos tempos mais recentes, com a indispensável ajuda de um calendário, e concluí que se tinham passado três semanas e dois dias.

Ao longo deste tempo o facto de não fumar foi perdendo importância, o que equivale a dizer que deixou de ser o meu único assunto de conversa para passar a ser o principal. Durante as primeiras duas semanas infernizei completamente a vida de quem em rodeava, como um pequeno acesso de stress que acabou por se prolongar por uns bons dezassete dias.

Falei com o ex-fumador com três anos de resistência, que me confessou que ainda é assaltado por um acessozinho periódico de traça, e com outro que, oito anos depois da sua última baforada, depois de trinta anos a intervalar o cigarrinho com cachimbo e charutos, me disse que não tinha a mínima vontade de fumar.

O que eu sei, de ciência certa (ou pelo menos tão certa quanto a ciência pode ser), é que o período de privação física de nicotina se prolonga por um mínimo de oito semanas. Com um bocadinho de sorte ainda só vou a meio do caminho.

Acho que vou conseguir deixar de fumar. Até porque, depois de um almoço acompanhado de um bom tinto, que é sem dúvida a ocasião da minha rotina em que mais necessito de um cigarro, descobri que afinal gostava de cigarrilhas. Ou pelo menos de meia cigarrilha.
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Tuesday, March 08, 2005

Quinze dias

Há quinze dias que não fumo um SG Filtro. Apesar de ter passado quinze dias de mau humor, estou contente. Apesar de ter passado quinze dias com dores de garganta que nem engolir em seco sem dor me deixam, sinto-me bem de saúde. Apesar de ter passado quinze dias com vontade de fumar um cigarro, continua a apetecer-me.

Apesar de ter estado mais perto de dar em doido do que de resolver este problema, nestes quinze dias sobrevivi. A minha vida profissional não se afundou, apenas se tornou mais insuportável do que é hábito. A minha relação com toda a gente que me rodeia não mudou, apenas se tornou meia dúzia de vezes em eu contra todos.

Hoje era segunda-feira. O dia da semana que eu mais detesto. Amanhã é terça. E quando saír da cama há mais de quinze dias que não fumo um cigarro.
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Quinze anos para o lixo

Ao longo das últimas duas semanas (faz hoje, mais minuto, menos minuto, duas semanas desde a última vez que acendi um SG Filtro) tenho passado um calvário do qual por pouco instantes me esqueci.

Ao longo do dia de hoje, as coisas foram mais suaves. Simplesmente me sentia mal disposto, e apesar da insistente dor de garganta que não me abandona também há dois semanas, e não associei esta má disposição à falta de nicotina.

Há dias em que sentimos, ao olhar em volta para a nossa vida, ou mais concretamente para os problemas que temos que resolver naquele dia, hora ou minuto, que fomos apanhados na sala apertada de uma biblioteca durante um terramoto. Por mais que o contrariemos, por mais que nos encostemos a uma das estantes, temos garantida meia dúzia de pancadas na cabeça.

Até há algum tempo o que eu fazia nessas alturas era sacar do cigarrinho, acendê-lo e tentar aclarar um pouco as ideias enquanto dava longas e saborosas baforadas. Hoje apercebi-me que esse cigarrinho pode fazer uma falta imensa, mesmo quando não nos lembramos dele. Mas apercebi-me também que vou ter que aprender uma nova forma de esquecer a tensão. Lá se foram quinze anos de aprendizagem para o caixote do lixo.
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Monday, March 07, 2005

Volta fumo, estás perdoado

Tenho a garganta feita num oito desde o dia em que deixei de fumar, e apesar de se completarem hoje duas semanas sobre a data fatídica, tudo melhora menos o ardor que sinto cada vez que engulo um pouco mais do que uma lufada de ar.

Interrogo-me se não era precisamente o facto de acumular agressões com nicotina que mantinha o meu sistema respiratório a funcionar. Agora, posto perante uma nova realidade em que o fumo está quase ausente, o organismo insiste em não se renovar. O crime pelos vistos compensa. Volta fumo, que estás perdoado.
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Thursday, March 03, 2005

Prendam-me

Vi agora mesmo na fase final do meu zapping diário uma entrevista com uma reclusa (detesto esta palavra) norte-americana, em que ela dizia que, no meio de tudo aquilo, e apesar de lhe doer a consciência por ver nascer o sol aos quadradinhos, achava que o sistema judicial não tinha reconhecido o grande passo em frente que tinha sido deixar de consumir drogas antes da sua última condenação.

"Se tivessem visto o meu historial", queixava-se, "de quantos anos estive na rua consumindo drogas, da adolescência até à idade adulta, teriam sido mais compreensivos". Para ela, "mesmo que eles não o reconheçam como tal" livrar-se daquela adição era pura e simplesmente o maior feito da sua vida, que tornava tudo o resto de importância relativa.

Senti-me sensibilizado. Eu também tenho actualmente algo que é importante na minha vida, e que torna tudo o resto relativo. Chama-se carência física de nicotina.
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Wednesday, March 02, 2005

Mulher bonita

O problema de um vício é que não conseguimos controlar o seu surgimento, que normalmente ocorre nas alturas mais inconvenientes. Tenho a certeza que em qualquer ocasião que envolva, por exemplo, uma mulher bonita e a necessidade de me concentrar no que estou a dizer e fazer, vou pensar num cigarro algures a meio do processo, pelo menos o suficiente para me distrair do essencial. Ou talvez, quem sabe, pior ainda, ela me crave um cigarro...
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Tuesday, March 01, 2005

Minutos? Who's counting?

Apercebi-me agora, ao transcrever na ordem inversa (na ordem certa, portanto) o conteúdo integral do meu blog para o e-mail de um amigo cujo acesso à internet não tem estatura tecnológica para chegar às minhas palavras, que só no primeiro post me lembrei de contar as horas desde o último cigarro (malfadada palavra). Setenta, nessa altura. Para que conste, já ultrapassei as cento e oitenta.
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Manhãs agradáveis

Provavelmente não terá nada a ver com a eliminação progressiva de nicotina, mas a verdade é que nos últimos dois dias tem-me sido mais fácil adormecer, e tenho acordado menos enjoado do que o habitual.

Tenho conseguido ter como pequeno-almoço uma laranja fresca cortada aos pedaços e um iogurte biológico de frutas. Nenhuma das coisas pede ou liga bem com um cigarro. Mas, mais uma vez, acho que é impressão minha. Se há refúgio que sempre tive no meu vício foram os primeiros minutos da manhã. Sou dos poucos fumadores inveterados que conheço que normalmente não fuma nos primeiros sessenta minutos do dia. O resto são coincidências causadas pela falta de assunto neste blog e pela vontade de achar que a minha vida mudou radicalmente quando estamos a falar da mudança de hábitos nos últimos... dois dias.
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A culpa é da nicotina

Pela primeira vez, para aí desde o FC Porto contra a Juventus em Maio de 1984, vi um jogo grande sem debitar um único cigarrinho. Nem o aperitivo no intervalo me acalmou. Tenho a garganta feita num oito. Insiste em não melhorar. Talvez a culpa seja desta súbita e inaudita vaga de frio e do anticiclone que veio da Finlândia, como um vodka de segunda categoria, e nos soterrou de ar gelado em menos tempo do que o gasto pelo diabo a esfregar um olho. Ou talvez não. O mais provável, sinto-o, é que seja mesmo culpa da nicotina.
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