Friday, June 17, 2005
Mesmo quando lhes perder a conta
Há uns tempos dei-me conta de um fenómeno que uma interpretação optimista diria ser revelador de ter passado uma barrreira. deixei de saber em rigor há quantas semanas deixei de fumar.
Lembro-me, naturalmente, que o primeiro dia que estive sem fumar foi uma terça-feira. Consultando o calendário, provavelmente terão sido 16 - dezasseis semanas, ou cento e doze dias ao longo dos quais não acendi um cigarro.
Hoje, ao terminar apressadamente o meu medalhão de novilho alentejano com massa fresca, enquanto esperavam por mim à porta de casa para aproveitar o calor de uma noite de Verão —apesar do início oficial da estação ainda tardar mais uns dias — tive uma vontade louca de acender um cigarro que trancasse os alimentos deglutidos sem calma ou critério.
Quando contei isto a uma amiga, ouvi dela um natural "Ainda?". Tão natural quanto a minha resposta: "Não há problema. Já passa".
Eu sei que há-de passar sempre, desde que tenha paciência e força de vontade para não ceder. Mas também tenho a noção de que hei-de sempre ter a companhia da tentação, mesmo que seja só quando bebo um vinho excepcional e não tenho por perto uma caixa de Montecristo número quatro.
Sei que, mesmo quando o calendário se tiver afastado o suficiente para eu não conseguir recuperar a conta exacta das semanas que se passaram desde que deixei de ser fumador, me há-de continuar a custar a persistência em renegar um prazer que já conheci.
Lembro-me, naturalmente, que o primeiro dia que estive sem fumar foi uma terça-feira. Consultando o calendário, provavelmente terão sido 16 - dezasseis semanas, ou cento e doze dias ao longo dos quais não acendi um cigarro.
Hoje, ao terminar apressadamente o meu medalhão de novilho alentejano com massa fresca, enquanto esperavam por mim à porta de casa para aproveitar o calor de uma noite de Verão —apesar do início oficial da estação ainda tardar mais uns dias — tive uma vontade louca de acender um cigarro que trancasse os alimentos deglutidos sem calma ou critério.
Quando contei isto a uma amiga, ouvi dela um natural "Ainda?". Tão natural quanto a minha resposta: "Não há problema. Já passa".
Eu sei que há-de passar sempre, desde que tenha paciência e força de vontade para não ceder. Mas também tenho a noção de que hei-de sempre ter a companhia da tentação, mesmo que seja só quando bebo um vinho excepcional e não tenho por perto uma caixa de Montecristo número quatro.
Sei que, mesmo quando o calendário se tiver afastado o suficiente para eu não conseguir recuperar a conta exacta das semanas que se passaram desde que deixei de ser fumador, me há-de continuar a custar a persistência em renegar um prazer que já conheci.
Tuesday, March 22, 2005
Violência doméstica
A estatística chega, brutal e certeira, debitada por um papagaio bem vestido no bloco informativo da uma da manhã da SIC Notícias: "Vinte por cento das mulheres da Europa são maltratados, segundo dados da União Europeia".
Vinte por cento. Tanta gente a tentar deixar de fumar. É nestas alturas que me recordo que há vantagens em ser solteiro, embora talvez quem trabalhe comigo não fosse da mesma opinião.
Vinte por cento. Tanta gente a tentar deixar de fumar. É nestas alturas que me recordo que há vantagens em ser solteiro, embora talvez quem trabalhe comigo não fosse da mesma opinião.
Thursday, March 17, 2005
(com sorte) A meio do caminho
Nos últimos dias tenho sido insistentemente perseguido pela dúvida de quanto tempo se passou exactamente desde o meu último cigarro. Antes de escrever estas linhas fiz uma reconstrução de memória dos tempos mais recentes, com a indispensável ajuda de um calendário, e concluí que se tinham passado três semanas e dois dias.
Ao longo deste tempo o facto de não fumar foi perdendo importância, o que equivale a dizer que deixou de ser o meu único assunto de conversa para passar a ser o principal. Durante as primeiras duas semanas infernizei completamente a vida de quem em rodeava, como um pequeno acesso de stress que acabou por se prolongar por uns bons dezassete dias.
Falei com o ex-fumador com três anos de resistência, que me confessou que ainda é assaltado por um acessozinho periódico de traça, e com outro que, oito anos depois da sua última baforada, depois de trinta anos a intervalar o cigarrinho com cachimbo e charutos, me disse que não tinha a mínima vontade de fumar.
O que eu sei, de ciência certa (ou pelo menos tão certa quanto a ciência pode ser), é que o período de privação física de nicotina se prolonga por um mínimo de oito semanas. Com um bocadinho de sorte ainda só vou a meio do caminho.
Acho que vou conseguir deixar de fumar. Até porque, depois de um almoço acompanhado de um bom tinto, que é sem dúvida a ocasião da minha rotina em que mais necessito de um cigarro, descobri que afinal gostava de cigarrilhas. Ou pelo menos de meia cigarrilha.
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Ao longo deste tempo o facto de não fumar foi perdendo importância, o que equivale a dizer que deixou de ser o meu único assunto de conversa para passar a ser o principal. Durante as primeiras duas semanas infernizei completamente a vida de quem em rodeava, como um pequeno acesso de stress que acabou por se prolongar por uns bons dezassete dias.
Falei com o ex-fumador com três anos de resistência, que me confessou que ainda é assaltado por um acessozinho periódico de traça, e com outro que, oito anos depois da sua última baforada, depois de trinta anos a intervalar o cigarrinho com cachimbo e charutos, me disse que não tinha a mínima vontade de fumar.
O que eu sei, de ciência certa (ou pelo menos tão certa quanto a ciência pode ser), é que o período de privação física de nicotina se prolonga por um mínimo de oito semanas. Com um bocadinho de sorte ainda só vou a meio do caminho.
Acho que vou conseguir deixar de fumar. Até porque, depois de um almoço acompanhado de um bom tinto, que é sem dúvida a ocasião da minha rotina em que mais necessito de um cigarro, descobri que afinal gostava de cigarrilhas. Ou pelo menos de meia cigarrilha.
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Tuesday, March 08, 2005
Quinze dias
Há quinze dias que não fumo um SG Filtro. Apesar de ter passado quinze dias de mau humor, estou contente. Apesar de ter passado quinze dias com dores de garganta que nem engolir em seco sem dor me deixam, sinto-me bem de saúde. Apesar de ter passado quinze dias com vontade de fumar um cigarro, continua a apetecer-me.
Apesar de ter estado mais perto de dar em doido do que de resolver este problema, nestes quinze dias sobrevivi. A minha vida profissional não se afundou, apenas se tornou mais insuportável do que é hábito. A minha relação com toda a gente que me rodeia não mudou, apenas se tornou meia dúzia de vezes em eu contra todos.
Hoje era segunda-feira. O dia da semana que eu mais detesto. Amanhã é terça. E quando saír da cama há mais de quinze dias que não fumo um cigarro.
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Apesar de ter estado mais perto de dar em doido do que de resolver este problema, nestes quinze dias sobrevivi. A minha vida profissional não se afundou, apenas se tornou mais insuportável do que é hábito. A minha relação com toda a gente que me rodeia não mudou, apenas se tornou meia dúzia de vezes em eu contra todos.
Hoje era segunda-feira. O dia da semana que eu mais detesto. Amanhã é terça. E quando saír da cama há mais de quinze dias que não fumo um cigarro.
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Quinze anos para o lixo
Ao longo das últimas duas semanas (faz hoje, mais minuto, menos minuto, duas semanas desde a última vez que acendi um SG Filtro) tenho passado um calvário do qual por pouco instantes me esqueci.
Ao longo do dia de hoje, as coisas foram mais suaves. Simplesmente me sentia mal disposto, e apesar da insistente dor de garganta que não me abandona também há dois semanas, e não associei esta má disposição à falta de nicotina.
Há dias em que sentimos, ao olhar em volta para a nossa vida, ou mais concretamente para os problemas que temos que resolver naquele dia, hora ou minuto, que fomos apanhados na sala apertada de uma biblioteca durante um terramoto. Por mais que o contrariemos, por mais que nos encostemos a uma das estantes, temos garantida meia dúzia de pancadas na cabeça.
Até há algum tempo o que eu fazia nessas alturas era sacar do cigarrinho, acendê-lo e tentar aclarar um pouco as ideias enquanto dava longas e saborosas baforadas. Hoje apercebi-me que esse cigarrinho pode fazer uma falta imensa, mesmo quando não nos lembramos dele. Mas apercebi-me também que vou ter que aprender uma nova forma de esquecer a tensão. Lá se foram quinze anos de aprendizagem para o caixote do lixo.
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Ao longo do dia de hoje, as coisas foram mais suaves. Simplesmente me sentia mal disposto, e apesar da insistente dor de garganta que não me abandona também há dois semanas, e não associei esta má disposição à falta de nicotina.
Há dias em que sentimos, ao olhar em volta para a nossa vida, ou mais concretamente para os problemas que temos que resolver naquele dia, hora ou minuto, que fomos apanhados na sala apertada de uma biblioteca durante um terramoto. Por mais que o contrariemos, por mais que nos encostemos a uma das estantes, temos garantida meia dúzia de pancadas na cabeça.
Até há algum tempo o que eu fazia nessas alturas era sacar do cigarrinho, acendê-lo e tentar aclarar um pouco as ideias enquanto dava longas e saborosas baforadas. Hoje apercebi-me que esse cigarrinho pode fazer uma falta imensa, mesmo quando não nos lembramos dele. Mas apercebi-me também que vou ter que aprender uma nova forma de esquecer a tensão. Lá se foram quinze anos de aprendizagem para o caixote do lixo.
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Monday, March 07, 2005
Volta fumo, estás perdoado
Tenho a garganta feita num oito desde o dia em que deixei de fumar, e apesar de se completarem hoje duas semanas sobre a data fatídica, tudo melhora menos o ardor que sinto cada vez que engulo um pouco mais do que uma lufada de ar.
Interrogo-me se não era precisamente o facto de acumular agressões com nicotina que mantinha o meu sistema respiratório a funcionar. Agora, posto perante uma nova realidade em que o fumo está quase ausente, o organismo insiste em não se renovar. O crime pelos vistos compensa. Volta fumo, que estás perdoado.
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Interrogo-me se não era precisamente o facto de acumular agressões com nicotina que mantinha o meu sistema respiratório a funcionar. Agora, posto perante uma nova realidade em que o fumo está quase ausente, o organismo insiste em não se renovar. O crime pelos vistos compensa. Volta fumo, que estás perdoado.
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Thursday, March 03, 2005
Prendam-me
Vi agora mesmo na fase final do meu zapping diário uma entrevista com uma reclusa (detesto esta palavra) norte-americana, em que ela dizia que, no meio de tudo aquilo, e apesar de lhe doer a consciência por ver nascer o sol aos quadradinhos, achava que o sistema judicial não tinha reconhecido o grande passo em frente que tinha sido deixar de consumir drogas antes da sua última condenação.
"Se tivessem visto o meu historial", queixava-se, "de quantos anos estive na rua consumindo drogas, da adolescência até à idade adulta, teriam sido mais compreensivos". Para ela, "mesmo que eles não o reconheçam como tal" livrar-se daquela adição era pura e simplesmente o maior feito da sua vida, que tornava tudo o resto de importância relativa.
Senti-me sensibilizado. Eu também tenho actualmente algo que é importante na minha vida, e que torna tudo o resto relativo. Chama-se carência física de nicotina.
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"Se tivessem visto o meu historial", queixava-se, "de quantos anos estive na rua consumindo drogas, da adolescência até à idade adulta, teriam sido mais compreensivos". Para ela, "mesmo que eles não o reconheçam como tal" livrar-se daquela adição era pura e simplesmente o maior feito da sua vida, que tornava tudo o resto de importância relativa.
Senti-me sensibilizado. Eu também tenho actualmente algo que é importante na minha vida, e que torna tudo o resto relativo. Chama-se carência física de nicotina.
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Wednesday, March 02, 2005
Mulher bonita
O problema de um vício é que não conseguimos controlar o seu surgimento, que normalmente ocorre nas alturas mais inconvenientes. Tenho a certeza que em qualquer ocasião que envolva, por exemplo, uma mulher bonita e a necessidade de me concentrar no que estou a dizer e fazer, vou pensar num cigarro algures a meio do processo, pelo menos o suficiente para me distrair do essencial. Ou talvez, quem sabe, pior ainda, ela me crave um cigarro...
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Tuesday, March 01, 2005
Minutos? Who's counting?
Apercebi-me agora, ao transcrever na ordem inversa (na ordem certa, portanto) o conteúdo integral do meu blog para o e-mail de um amigo cujo acesso à internet não tem estatura tecnológica para chegar às minhas palavras, que só no primeiro post me lembrei de contar as horas desde o último cigarro (malfadada palavra). Setenta, nessa altura. Para que conste, já ultrapassei as cento e oitenta.
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Manhãs agradáveis
Provavelmente não terá nada a ver com a eliminação progressiva de nicotina, mas a verdade é que nos últimos dois dias tem-me sido mais fácil adormecer, e tenho acordado menos enjoado do que o habitual.
Tenho conseguido ter como pequeno-almoço uma laranja fresca cortada aos pedaços e um iogurte biológico de frutas. Nenhuma das coisas pede ou liga bem com um cigarro. Mas, mais uma vez, acho que é impressão minha. Se há refúgio que sempre tive no meu vício foram os primeiros minutos da manhã. Sou dos poucos fumadores inveterados que conheço que normalmente não fuma nos primeiros sessenta minutos do dia. O resto são coincidências causadas pela falta de assunto neste blog e pela vontade de achar que a minha vida mudou radicalmente quando estamos a falar da mudança de hábitos nos últimos... dois dias.
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Tenho conseguido ter como pequeno-almoço uma laranja fresca cortada aos pedaços e um iogurte biológico de frutas. Nenhuma das coisas pede ou liga bem com um cigarro. Mas, mais uma vez, acho que é impressão minha. Se há refúgio que sempre tive no meu vício foram os primeiros minutos da manhã. Sou dos poucos fumadores inveterados que conheço que normalmente não fuma nos primeiros sessenta minutos do dia. O resto são coincidências causadas pela falta de assunto neste blog e pela vontade de achar que a minha vida mudou radicalmente quando estamos a falar da mudança de hábitos nos últimos... dois dias.
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A culpa é da nicotina
Pela primeira vez, para aí desde o FC Porto contra a Juventus em Maio de 1984, vi um jogo grande sem debitar um único cigarrinho. Nem o aperitivo no intervalo me acalmou. Tenho a garganta feita num oito. Insiste em não melhorar. Talvez a culpa seja desta súbita e inaudita vaga de frio e do anticiclone que veio da Finlândia, como um vodka de segunda categoria, e nos soterrou de ar gelado em menos tempo do que o gasto pelo diabo a esfregar um olho. Ou talvez não. O mais provável, sinto-o, é que seja mesmo culpa da nicotina.
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Monday, February 28, 2005
Não se arranjará uma distracção qualquer?
O estranho deste vício é que consegue simultaneamente tomar posse de nossa vida e ser como se não existisse, ou pelo menos não se manifestar até ao preciso momento em que decidimos prescindir dele.
O cigarro ritual, que se toma após coisas tão diversas quanto um café, uma refeição, ou aquela coisa boa que vem a seguir ao whisky, só surge à superfície quando decidimos manter o ritual e fazer desaparecer o apêndice fumegante.
Apercebemo-nos assim da quantidade de actos quotidianos que foram, neste processo, e sem que tenhamos percebido muito bem como ou porquê, elevados à qualidade de ritual: beber um café (quatro a oito rituais diários), falar ao telefone com um cliente por mais do que dois minutos (idem), reunir com alguém do escritório durante mais do que trinta segundos (seis a vinte rituais semanais). Quando damos por nós, toda a nossa vida é um manancial de rituais, que se sucedem inexoravelmente, e têm como consequência o gesto assassino: apalpar o contorno dos bolsos em busca do maço de tabaco salvador.
Não se arranjará uma distracção qualquer que substitua de forma graciosa estes rituais?
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O cigarro ritual, que se toma após coisas tão diversas quanto um café, uma refeição, ou aquela coisa boa que vem a seguir ao whisky, só surge à superfície quando decidimos manter o ritual e fazer desaparecer o apêndice fumegante.
Apercebemo-nos assim da quantidade de actos quotidianos que foram, neste processo, e sem que tenhamos percebido muito bem como ou porquê, elevados à qualidade de ritual: beber um café (quatro a oito rituais diários), falar ao telefone com um cliente por mais do que dois minutos (idem), reunir com alguém do escritório durante mais do que trinta segundos (seis a vinte rituais semanais). Quando damos por nós, toda a nossa vida é um manancial de rituais, que se sucedem inexoravelmente, e têm como consequência o gesto assassino: apalpar o contorno dos bolsos em busca do maço de tabaco salvador.
Não se arranjará uma distracção qualquer que substitua de forma graciosa estes rituais?
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Sunday, February 27, 2005
Picos
Vou agora um pouco à rua, beber um café, ver se a loja gourmet a três quarteirões, cuja existência descobri no outro dia, está aberta a esta hora, ver se o ar fresco me faz querer estar fora de casa ou o inverso. Recusei o meu direito de adoentado de ficar um fim-de-semana inteiro no quentinho.
Estou com aquilo que se poderá chamar um pico (de privação de nicotina que, tirando a enorme carga de detalhes e tralha sem interesse, é no fundo o único assunto deste blog).
Tenho sentido uma secura inaudita nos lábios, como se de cieiro se tratasse. Talvez fosse do aquecedor a óleo ligado dias a fio. Abri as janelas. Tudo na mesma. Talvez fosse como tudo o que tenho sentido nestes últimos dias: uma sensação de faltar qualquer coisa, o acto mecânico de sondar os bolsos para descobrir em qual deles está um maço de tabaco.
Vou beber água e tenho que ir beber um café. O café tem sido o meu melhor amigo nos últimos tempos. Vou ter que comprar uma máquina de espresso.
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Estou com aquilo que se poderá chamar um pico (de privação de nicotina que, tirando a enorme carga de detalhes e tralha sem interesse, é no fundo o único assunto deste blog).
Tenho sentido uma secura inaudita nos lábios, como se de cieiro se tratasse. Talvez fosse do aquecedor a óleo ligado dias a fio. Abri as janelas. Tudo na mesma. Talvez fosse como tudo o que tenho sentido nestes últimos dias: uma sensação de faltar qualquer coisa, o acto mecânico de sondar os bolsos para descobrir em qual deles está um maço de tabaco.
Vou beber água e tenho que ir beber um café. O café tem sido o meu melhor amigo nos últimos tempos. Vou ter que comprar uma máquina de espresso.
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Saturday, February 26, 2005
A dúvida
Continuo adoentado desde antes do momento zero. Instala-se, no entanto, a dúvida: se por vezes tenho longos períodos (que chegam a atingir os quarenta segundos) sem vontade de fumar é porque me mantenho doente ou... continuo doente porque não tenho nicotina?
Só sei que comi imenso desde o momento tardio em que acordei hoje, depois de ter tentado ganhar terreno à gripe à custa de muito sono, e apercebo-me que na situação onde eu sempre pensei ser mais crítico o cigarrinho — o pós refeição — já me consegui habituar a passar sem ele, ainda que isto implique passar a saír de casa para beber o agora indispensável café.
Isto só se vai tornar realmente dificil quando acabar de tossir os pulmões, e voltar a ter o paladar e o olfacto totalmente funcionais.
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Só sei que comi imenso desde o momento tardio em que acordei hoje, depois de ter tentado ganhar terreno à gripe à custa de muito sono, e apercebo-me que na situação onde eu sempre pensei ser mais crítico o cigarrinho — o pós refeição — já me consegui habituar a passar sem ele, ainda que isto implique passar a saír de casa para beber o agora indispensável café.
Isto só se vai tornar realmente dificil quando acabar de tossir os pulmões, e voltar a ter o paladar e o olfacto totalmente funcionais.
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Friday, February 25, 2005
A base científica
Numa sociedade como a nossa as coisas têm que ter uma base científica. Tudo tem uma base científica, até uma boa desculpa — ou, se pensarmos bem, principalmente uma boa desculpa.
Por voltas do destino calhou-me, já lá vão mais do que dez anos, trabalhar na promoção de um produto antitabágico. Um adesivo com nicotina, para praticar o desmame (voilá) da substância aditiva do corpo.
Aí aprendi que, para além de uma lista infindável de sintomas de privação, o corpo — repito, o corpo, e não a tortuosa e volúvel mente — sente a falta da substânciazinha durante seis a oito semanas.
Seis a oito semanas! Só passaram cinco dias.... e eu a achar que daqui a umas horas isto se resolvia
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Por voltas do destino calhou-me, já lá vão mais do que dez anos, trabalhar na promoção de um produto antitabágico. Um adesivo com nicotina, para praticar o desmame (voilá) da substância aditiva do corpo.
Aí aprendi que, para além de uma lista infindável de sintomas de privação, o corpo — repito, o corpo, e não a tortuosa e volúvel mente — sente a falta da substânciazinha durante seis a oito semanas.
Seis a oito semanas! Só passaram cinco dias.... e eu a achar que daqui a umas horas isto se resolvia
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Adrenalina
Achava que sabia o que era adrenalina. Achava, dizia eu, porque na realidade o que eu pensava ser a adrenalina era o que eu sentia quando acabava um trabalho em cima da hora, começava a negociar um orçamento apercebendo-me que me esqueci de ver os custos antes de saír do escritório ou perguntava as horas a uma mulher linda sem ter ensaiado previamente a deixa seguinte.
Não é adrenalina, é mais simples: é stress. Ou se quisermos usar uma mais nacional e prosaica terminologia... é uma nervoseira do caraças, de quem morre de traça, necessitando de um pauzinho de nicotina para se distraír. Parece que vou ter que recorrer à ervanária.
Nunca mais na vida digo que funciono bem sobre stress. Nem postar, quanto mais o resto.
:-)
Não é adrenalina, é mais simples: é stress. Ou se quisermos usar uma mais nacional e prosaica terminologia... é uma nervoseira do caraças, de quem morre de traça, necessitando de um pauzinho de nicotina para se distraír. Parece que vou ter que recorrer à ervanária.
Nunca mais na vida digo que funciono bem sobre stress. Nem postar, quanto mais o resto.
:-)
Trabalho é trabalho, vício é... vício
Uma das técnicas mais utilizadas - a par do científico desmame - quando se fala de deixar de fumar, é reduzir o vício aos cigarros rituais: a seguir ao almoço, a seguir ao jantar, durante o snooker, entre o whisky e o coiso-e-tal.
O verdadeiro teste para quem deixa de fumar é esse imenso ritual chamado trabalho.
Sentado no gabinete com o meu sócio, apreciando o ritmo a que ele trucida um cigarro a cada dez minutos, atendendo telefonemas, bebendo cafés... já dei por mim dezenas de vezes pondo a mão ao bolso do casaco em busca do maço.
A grande dificuldade surgiu-me cerca das seis da tarde. Depois de concluír uma negociação que se arrastava há meses -- pressinto aliás, que não a deixei prolongar mais devido à carência de nicotina - chegou a altura de marcar simbolicamente o momento.
Cadê o isqueiro. Cadê o maço? Porra... já aguentei mais uns minutos
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O verdadeiro teste para quem deixa de fumar é esse imenso ritual chamado trabalho.
Sentado no gabinete com o meu sócio, apreciando o ritmo a que ele trucida um cigarro a cada dez minutos, atendendo telefonemas, bebendo cafés... já dei por mim dezenas de vezes pondo a mão ao bolso do casaco em busca do maço.
A grande dificuldade surgiu-me cerca das seis da tarde. Depois de concluír uma negociação que se arrastava há meses -- pressinto aliás, que não a deixei prolongar mais devido à carência de nicotina - chegou a altura de marcar simbolicamente o momento.
Cadê o isqueiro. Cadê o maço? Porra... já aguentei mais uns minutos
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Estou a ficar velho
Acho que esta coisa de pela primeira vez na vida tentar realmente deixar de fumar (por mais que tente esquecê-lo, nestas alturas só me consigo lembrar da palavra "desmame") é um sinal não de maturidade, mas de medo da idade.
À medida que a PDI (sigla, só digo que "I" é de Idade) avança, à mínima gripe descobrimos sensações e dores que são como ruídos num carro acabado de chegar da revisão — sempre lá estiveram, mas noutros tempos não teriam merecido atenção suficiente para serem elevados à categoria de problema.
Claro que assim que a saúde volta em força esquecemos tudo isto. Eis outra desculpa tão boa quanto qualquer outra para ter transformado esta curta caminhada num blog. Assim é um pouco mais difícil esquecer.
-/-
À medida que a PDI (sigla, só digo que "I" é de Idade) avança, à mínima gripe descobrimos sensações e dores que são como ruídos num carro acabado de chegar da revisão — sempre lá estiveram, mas noutros tempos não teriam merecido atenção suficiente para serem elevados à categoria de problema.
Claro que assim que a saúde volta em força esquecemos tudo isto. Eis outra desculpa tão boa quanto qualquer outra para ter transformado esta curta caminhada num blog. Assim é um pouco mais difícil esquecer.
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Custa muito contar minutos
Tinha razão. O chá teve uma eficácia aproximada de dois minutos e quarenta segundos. Mais segundo, menos segundo, o tempo que demorei a bebê-lo.
Depois disso foi basicamente contar os minutos. Estou com aquela sensação que vou acender um cigarro. Só falta descobrir onde ele anda. Penso nos pulmões. Sinto-os como em pedra, por causa desta maldita gripe (não quero pensar em mais do que isso)
Depois disso foi basicamente contar os minutos. Estou com aquela sensação que vou acender um cigarro. Só falta descobrir onde ele anda. Penso nos pulmões. Sinto-os como em pedra, por causa desta maldita gripe (não quero pensar em mais do que isso)
Talvez chá de coca?
Decidi que o chá de coca talvez ajudasse. Tenho a sorte de ter aqui, do genuíno espécime andino, retalhado e triturado na sua forma natural, e embalado com a elegante denominação de "Delice".
Esta infusão de coca talvez resolva a ansiedade nestes próximos dez minutos. Vou experimentar utilizar o PC para um jogo. Embora, depois de coisas que envolvam bebidas alcoólicas, um jogo de computador é provavelmente uma das minhas actividades quotidianas mais carregadas de nicotina.
Claro que o facto do comércio de folha de coca ser ilegal em todos os países do mundo excepto em dois dos principais produtores — não, erraram, Bolívia e Perú — é um mero detalhe que o meu subconsciente chamou ao assunto. Uma associação engraçada entre um vício legal e dispensado, com cumprimentos do ministério das Finanças, em milhares de pontos de venda no País e no estrangeiro, e um outro vício, ilegal, e pago com uns dólares anuais de cada americano para combater a rede de distribuição e com outros tantos dólares (normalmente da mesma alma respeitável e pagadora de impostos) ara o consumo.
Independentemente do raciocínio mirabolante, talvez uma réstea de vício ou crime no trivial acto de beber chá possa contribuir para levar esta sensação de secura, de "falta" que eu não conhecia há 15 anos.
Para tal efeito é um detalhe que a clandestina aquisição dos elegantes saquinhos de 'mate de coca' tenha tido lugar no supermercado com ar mais apresentável que encontrei no centro da acolhedora — e, por padrões extra-europeus, limpa e civilizada, cidade de Cusco.
O que interessa nisto é que tudo são distracções da tentação de fumar. Ou formas de a recordar de novo.
Apercebo-me agora que, pela primeira vez, não tenho o cigarro à vista (escondi-o no final do post anterior).
Esta infusão de coca talvez resolva a ansiedade nestes próximos dez minutos. Vou experimentar utilizar o PC para um jogo. Embora, depois de coisas que envolvam bebidas alcoólicas, um jogo de computador é provavelmente uma das minhas actividades quotidianas mais carregadas de nicotina.
Claro que o facto do comércio de folha de coca ser ilegal em todos os países do mundo excepto em dois dos principais produtores — não, erraram, Bolívia e Perú — é um mero detalhe que o meu subconsciente chamou ao assunto. Uma associação engraçada entre um vício legal e dispensado, com cumprimentos do ministério das Finanças, em milhares de pontos de venda no País e no estrangeiro, e um outro vício, ilegal, e pago com uns dólares anuais de cada americano para combater a rede de distribuição e com outros tantos dólares (normalmente da mesma alma respeitável e pagadora de impostos) ara o consumo.
Independentemente do raciocínio mirabolante, talvez uma réstea de vício ou crime no trivial acto de beber chá possa contribuir para levar esta sensação de secura, de "falta" que eu não conhecia há 15 anos.
Para tal efeito é um detalhe que a clandestina aquisição dos elegantes saquinhos de 'mate de coca' tenha tido lugar no supermercado com ar mais apresentável que encontrei no centro da acolhedora — e, por padrões extra-europeus, limpa e civilizada, cidade de Cusco.
O que interessa nisto é que tudo são distracções da tentação de fumar. Ou formas de a recordar de novo.
Apercebo-me agora que, pela primeira vez, não tenho o cigarro à vista (escondi-o no final do post anterior).
Thursday, February 24, 2005
Momento zero. Falta-me ar. Preciso de fumo
Momento Zero
Período aprox. de tempo desde o último SG: 70 horas
Comecei este blog porque foi o que me surgiu como natural e como forma de esquecer por um pouco o quão chocante se revela a minha própria dependência da nicotina. Para ser sincero, porque o teclado era a forma mais óbvia de manter as mãos ocupadas antes que um cigarro o fizesse.
Uma gripe sem aviso, sem grandes febres mas altamente agressiva para nariz e pulmões tornou-me perfeitamente incapaz de fumar um único cigarro desde o momento em que me levantei da cama, cedo na terça-feira, até ao momento em que escrevo, nos últimos minutos do dia de quinta feira.
Trazia um cigarro no bolso da camisa, preparado para qualquer imprevisto e, depois de complicadas negociações com a minha consciência, cheguei à conclusão que, nesta primeira fase, deixaria o método científico falar mais alto e adoptaria a técnica do desmame, fumando apenas um único e contado cigarro diário, depois do jantar.
Cheguei ao ponto de imaginar que, ao longo do tempo, poderia passar a fumar um charutinho aqui e ali, nas ocasiões em que o repasto o justificasse. Curiosos os mecanismos do nosso cérebro, que nos levam a criar imagens perfeitas em sítios onde nós temos a perfeita consciência de estar apenas um enorme buraco.
Mente qualquer fumador convicto e efectivamente viciado que descreva o acto de deixar de fumar como algo menos que pura tortura. Há no entanto — e como gostam de nos dizer muitas vezes, utilizando a frase feita, "é isso que nos distingue dos animais" — uma parte racional que me leva a esperar sempre mais uns segundos até pensar na baforada redentora.
A verdade é que, desde que comecei a fumar, fará agora cerca de dezassete anos e três meses, mais mês, menos mês, não terei estado tanto tempo como agora sem pegar num cigarro — ou, para ser fiel à realidade, sem fumar um — e que ocupei mais de cinquenta por cento da minha vida a contaminar os meus pulmões com inúmeras substâncias tóxicas.
Quando me falavam de vícios, eu papagueave sempre, de forma quase automática "fumar é o vício que eu nem TENTO deixar". A verdade é que no presente é-me extremamente desconfortável fumar, pela simples razão que os meus maltratados pulmões de homem com mais dez anos do que tenho tornam efectivamente dolorosa a baforada. Se fosse apanhado na sede do Bloco de Esquerda certamente passaria por mal educado por não passar o cigarrinho esperto pelos lábios.
Amanhã, vou tentar continuar assim.
Para ser sincero, espero continuar assim nos próximos 30 segundos.
Ou até descobrir um cigarro. Será que a blogspot me deixa ter um blog chamado "desmame"??
Período aprox. de tempo desde o último SG: 70 horas
Comecei este blog porque foi o que me surgiu como natural e como forma de esquecer por um pouco o quão chocante se revela a minha própria dependência da nicotina. Para ser sincero, porque o teclado era a forma mais óbvia de manter as mãos ocupadas antes que um cigarro o fizesse.
Uma gripe sem aviso, sem grandes febres mas altamente agressiva para nariz e pulmões tornou-me perfeitamente incapaz de fumar um único cigarro desde o momento em que me levantei da cama, cedo na terça-feira, até ao momento em que escrevo, nos últimos minutos do dia de quinta feira.
Trazia um cigarro no bolso da camisa, preparado para qualquer imprevisto e, depois de complicadas negociações com a minha consciência, cheguei à conclusão que, nesta primeira fase, deixaria o método científico falar mais alto e adoptaria a técnica do desmame, fumando apenas um único e contado cigarro diário, depois do jantar.
Cheguei ao ponto de imaginar que, ao longo do tempo, poderia passar a fumar um charutinho aqui e ali, nas ocasiões em que o repasto o justificasse. Curiosos os mecanismos do nosso cérebro, que nos levam a criar imagens perfeitas em sítios onde nós temos a perfeita consciência de estar apenas um enorme buraco.
Mente qualquer fumador convicto e efectivamente viciado que descreva o acto de deixar de fumar como algo menos que pura tortura. Há no entanto — e como gostam de nos dizer muitas vezes, utilizando a frase feita, "é isso que nos distingue dos animais" — uma parte racional que me leva a esperar sempre mais uns segundos até pensar na baforada redentora.
A verdade é que, desde que comecei a fumar, fará agora cerca de dezassete anos e três meses, mais mês, menos mês, não terei estado tanto tempo como agora sem pegar num cigarro — ou, para ser fiel à realidade, sem fumar um — e que ocupei mais de cinquenta por cento da minha vida a contaminar os meus pulmões com inúmeras substâncias tóxicas.
Quando me falavam de vícios, eu papagueave sempre, de forma quase automática "fumar é o vício que eu nem TENTO deixar". A verdade é que no presente é-me extremamente desconfortável fumar, pela simples razão que os meus maltratados pulmões de homem com mais dez anos do que tenho tornam efectivamente dolorosa a baforada. Se fosse apanhado na sede do Bloco de Esquerda certamente passaria por mal educado por não passar o cigarrinho esperto pelos lábios.
Amanhã, vou tentar continuar assim.
Para ser sincero, espero continuar assim nos próximos 30 segundos.
Ou até descobrir um cigarro. Será que a blogspot me deixa ter um blog chamado "desmame"??